Cada dia que se passa, mais pareço com você, ando tão às minguas, qualquer música me lembra seus passos, e ando, ando e ando por aí e cada cantinho desse bairro tem um pouquinho seu, e ao andar, percebo que meu andar anda se tornando o seu.
O modo de olhar, (a mesma cor do olho!)
O modo de falar (a mesma dificuldade em se expressar!)
O modo de me distrair ( e entreabrir de leve os lábios)
E o modo como sento no degrau da sala, com o cigarro fedorento entre os dedos, tudo isso, toda essa herança genética você deixou em mim.
Você só não te deixou em mim.
Ô, Pai, se você visse como sua menina cresceu, Se você visse a porção de troféizinhos que acumulei com aquelas redações "bobas", que você sempre tava cansado demais para ler. Ô, Paizinho, se você visse como aprendi fazer café do jeito que você gostava, se você tivesse aqui pra ver que eu também aprendi a gostar de café forte e sem açucar. Se você estivesse, quem sabe a gente poderia tomar um café juntos no quintal, olhando o cajueiro (ele voltou a dar cajú, será que você sabe?) Se você visse o quanto estou indo bem na escola, o quanto meu cabelo cresceu, e como eu aprendi a não deixar mais as luzes acesas pra economizar energia, se você visse, se você visse como aprendi a deixar tudo tão organizado, meu quarto tá tão bonito hoje, pai.
Mas você não viu.
Saudades.
ass: Tata.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Moça
Olha só como ela se esconde na própria sombra.
Olha só como a pele é frágil, desacostumada com o contato do meio-fio sujo onde estamos sentadas, largadas, bêbadas.
"Como é feio quando uma moça bebe demais" sempre ouvi por aí.
Mas você continuava linda.
Sempre te conhei e nunca tinha te visto em lugar nenhum, mas cá estamos, moça, me passa o rum.
Que coisa mais maluca essa mania de trocar as sílabas das palavras quando estamos nervosas. E que loucura estar nervosa. Somos só eu e você.
Nós podemos conversar sobre o que você quiser, desde nossos desastrosos tarjas pretas dos quais tomamos a mesma receita, podemos falar dos efeitos colaterais, ou eu posso baixar os olhos e sorrir dura, que é exatamente o que acontece quando estou medicada, as pupilas dilatam e a pressão sanguínea vira uma bagunça. Então baixo os olhos e você pode continuar falando e falando, com sua voz meiga, um montão de coisas sem sentido. Eu aceito, rio, te abraço e te dou um beijo.
Vai ficar tudo bem, não vai?
Seguro sua mão como quem segura qualquer coisa valiosa demais, e você diz que minha pele é macia, e as ruas estão vazias, já é bem tarde, noite de quarta-feira, duas garotas perdidas nas proximidades de suas casas que sempre ficaram tão perto uma da outra mas mesmo assim, nunca nos vimos.
Duas garotas sob os incomodos faróis de carros que passam clareando suas coxas brancas, brancas.
Tenho o ímpeto de te roubar pra mim, moça.
Olha só como a pele é frágil, desacostumada com o contato do meio-fio sujo onde estamos sentadas, largadas, bêbadas.
"Como é feio quando uma moça bebe demais" sempre ouvi por aí.
Mas você continuava linda.
Sempre te conhei e nunca tinha te visto em lugar nenhum, mas cá estamos, moça, me passa o rum.
Que coisa mais maluca essa mania de trocar as sílabas das palavras quando estamos nervosas. E que loucura estar nervosa. Somos só eu e você.
Nós podemos conversar sobre o que você quiser, desde nossos desastrosos tarjas pretas dos quais tomamos a mesma receita, podemos falar dos efeitos colaterais, ou eu posso baixar os olhos e sorrir dura, que é exatamente o que acontece quando estou medicada, as pupilas dilatam e a pressão sanguínea vira uma bagunça. Então baixo os olhos e você pode continuar falando e falando, com sua voz meiga, um montão de coisas sem sentido. Eu aceito, rio, te abraço e te dou um beijo.
Vai ficar tudo bem, não vai?
Seguro sua mão como quem segura qualquer coisa valiosa demais, e você diz que minha pele é macia, e as ruas estão vazias, já é bem tarde, noite de quarta-feira, duas garotas perdidas nas proximidades de suas casas que sempre ficaram tão perto uma da outra mas mesmo assim, nunca nos vimos.
Duas garotas sob os incomodos faróis de carros que passam clareando suas coxas brancas, brancas.
Tenho o ímpeto de te roubar pra mim, moça.
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Sonofobia
Não é sobre a patologia que faz as pessoas terem medo de sons altos. É medo do sono.
As vezes chamo de insônia, ganhou um nomezinho popular, dizem por aí que é normal, e todo mundo tem, e o mundo vende mais Rivotril do que Água.
Tanto porquê, no desespero, a gente engole a seco mesmo, a pequena pílula passeia pela garganta arranhando cada cantinho, como quem quer avisar à todos que chegou. Uma dolorida proposta de paz.
E então quando me perguntam sobre a aparência fúnebre de todas as minhas manhãs, eu respondo o clichê, é duro ter que ficar explicando as coisas pras pessoas, e as pessoas perguntam demais, elas na verdade não querem saber se você está bem, mas sim se você está tão mal ou pior que elas.
Insônia a gente resolve com cafuné, com chá de erva doce, Rivotril, Dramin, Lexotan ou uma ponta.
Mas o medo de dormir é mais complicado, gente, é mais delicado. Se trata do medo de deitar na cama. Se trata, enfim, dos pensamentos que me vem à cabeça na hora mais escura da noite. É aquele arrepio na espinha, aquela dor de cabeça que dói dentro do cérebro, dentro das lembranças feias.
É o medo de deixar o cérebro fluir sem obstáculos, é o medo de se desocupar, de ser obrigada a tirar os olhos do livro, de ter de parar de prestar atenção no trabalho e deixar apenas seus pensamentos voarem....
Mas meu medo se resume no crítico problema dos meus pensamento nunca terem sido bons pilotos.
As vezes chamo de insônia, ganhou um nomezinho popular, dizem por aí que é normal, e todo mundo tem, e o mundo vende mais Rivotril do que Água.
Tanto porquê, no desespero, a gente engole a seco mesmo, a pequena pílula passeia pela garganta arranhando cada cantinho, como quem quer avisar à todos que chegou. Uma dolorida proposta de paz.
E então quando me perguntam sobre a aparência fúnebre de todas as minhas manhãs, eu respondo o clichê, é duro ter que ficar explicando as coisas pras pessoas, e as pessoas perguntam demais, elas na verdade não querem saber se você está bem, mas sim se você está tão mal ou pior que elas.
Insônia a gente resolve com cafuné, com chá de erva doce, Rivotril, Dramin, Lexotan ou uma ponta.
Mas o medo de dormir é mais complicado, gente, é mais delicado. Se trata do medo de deitar na cama. Se trata, enfim, dos pensamentos que me vem à cabeça na hora mais escura da noite. É aquele arrepio na espinha, aquela dor de cabeça que dói dentro do cérebro, dentro das lembranças feias.
É o medo de deixar o cérebro fluir sem obstáculos, é o medo de se desocupar, de ser obrigada a tirar os olhos do livro, de ter de parar de prestar atenção no trabalho e deixar apenas seus pensamentos voarem....
Mas meu medo se resume no crítico problema dos meus pensamento nunca terem sido bons pilotos.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Bilhete para mamãe
Hoje o dia amanheceu bonito.
Hoje os as coisas se inverteram, a madrugada que antes eu idolatrava hoje me assustou, e o sol, que outrora incomodava tanto os olhos, dessa vez me acalmou. Abri a janela, pois a muito não via as folhas verdes dançando com tanta paz.
Hoje, os personagens da peça de teatro mudaram os papéis, foi Julietta quem morreu primeiro, foi ela quem se enganou com a química do tempo e com o veneno da flor.
Uma correspondência de amor chegou na casa do carteiro solitário e pobre.
Hoje a mídia parou e as pessoas compraram livros.
Hoje foi Bush quem pediu esmola, e o violeiro sem sapatos encheu o chápeu de moedas.
Hoje a Kwait amanheceu limpo, e o sangue que escorria do rosto dos soldados viraram sorrisos estampados em feições serenas.
Hoje o dia amanheceu bonito, bonito de se ver. O cheiro da dama da noite se transformou em camomila fresca.
Hoje os as coisas se inverteram, a madrugada que antes eu idolatrava hoje me assustou, e o sol, que outrora incomodava tanto os olhos, dessa vez me acalmou. Abri a janela, pois a muito não via as folhas verdes dançando com tanta paz.
Hoje, os personagens da peça de teatro mudaram os papéis, foi Julietta quem morreu primeiro, foi ela quem se enganou com a química do tempo e com o veneno da flor.
Uma correspondência de amor chegou na casa do carteiro solitário e pobre.
Hoje a mídia parou e as pessoas compraram livros.
Hoje foi Bush quem pediu esmola, e o violeiro sem sapatos encheu o chápeu de moedas.
Hoje a Kwait amanheceu limpo, e o sangue que escorria do rosto dos soldados viraram sorrisos estampados em feições serenas.
Hoje o dia amanheceu bonito, bonito de se ver. O cheiro da dama da noite se transformou em camomila fresca.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Viver mata.
Quem fuma morre, diz naquela placa.
Se eu trabalhar demais eu posso ter uma crise de estresse e foder alguns neurônios, disse a psicóloga.
Mas quem fuma maconha mata o cérebro, disse meu pai.
Quem come demais também morre, disse o cirurgião-cardiaco.
Então eu vou ver televisão, mas posso morrer de alienação, enquanto coço os culhões, a barba por fazer e uma pizza de calabresa na mesa de centro. Aí eu fico gordo, aí não arrumo namorada, aí não caso, não tenho filhos e fico na solidão. Solidão traz depressão e quem tem depressão também morre.
Morre porquê se mata ou morre porquê não come.
E se eu ficar sem comer, fico magro, e todo mundo vai pensar que tenho aids, e nenhuma garota vai querer ter sexo comigo.
E se eu fizer sexo, posso mesmo ter aids, então eu morro de aids, ou de colesterol, ou de câncer de pulmão, ou de estresse, ou de vazio, ou de solidão, ou derreto o cérebro, ou piro de clinicas.
E se me colocarem numa clínica, eu vou olhar as canelas da enfermeira mau-humorada e torcer pra não me medicarem errado, posso ter um derrame, e porra, posso mesmo ficar com metade da cara paralisada, babando, chorando à seco, lendo literatura brasileira rica e esquecida, esquecido.
É perigoso morrer esquecido.
Se eu trabalhar demais eu posso ter uma crise de estresse e foder alguns neurônios, disse a psicóloga.
Mas quem fuma maconha mata o cérebro, disse meu pai.
Quem come demais também morre, disse o cirurgião-cardiaco.
Então eu vou ver televisão, mas posso morrer de alienação, enquanto coço os culhões, a barba por fazer e uma pizza de calabresa na mesa de centro. Aí eu fico gordo, aí não arrumo namorada, aí não caso, não tenho filhos e fico na solidão. Solidão traz depressão e quem tem depressão também morre.
Morre porquê se mata ou morre porquê não come.
E se eu ficar sem comer, fico magro, e todo mundo vai pensar que tenho aids, e nenhuma garota vai querer ter sexo comigo.
E se eu fizer sexo, posso mesmo ter aids, então eu morro de aids, ou de colesterol, ou de câncer de pulmão, ou de estresse, ou de vazio, ou de solidão, ou derreto o cérebro, ou piro de clinicas.
E se me colocarem numa clínica, eu vou olhar as canelas da enfermeira mau-humorada e torcer pra não me medicarem errado, posso ter um derrame, e porra, posso mesmo ficar com metade da cara paralisada, babando, chorando à seco, lendo literatura brasileira rica e esquecida, esquecido.
É perigoso morrer esquecido.
domingo, 13 de janeiro de 2013
Café sem açucar
Entra sem pedir licença, me deixa brava só pra acelerar o coração.
Você sempre apareceu nos meus pensamentos sem pedir permissão, sempre veio parar embaixo da minha pele sem que eu pudesse me dar conta. Então eu te espero aqui, abre a minha porta de forma brusca, deixa tua sombra miúda se fundir nos contra-tempos dessas baladas bregas que ando ouvindo,anos 50,60,70.
Sua voz projeta ruidosas frases no meu ouvido numa frequência de 60hz.
Vem cá se misturar com a textura do meu carpete, com o cheiro dos meus livros, com a cor dos meus discos e a dor dos meus olhos.
Faço pra ti um café bem forte, sem açucar. Gosto do gosto que fica na tua boca que se movimenta dizendo coisas que só eu quero ouvir...
E só se ouve o que quer.
Você na verdade nunca esteve aqui.
Você sempre apareceu nos meus pensamentos sem pedir permissão, sempre veio parar embaixo da minha pele sem que eu pudesse me dar conta. Então eu te espero aqui, abre a minha porta de forma brusca, deixa tua sombra miúda se fundir nos contra-tempos dessas baladas bregas que ando ouvindo,anos 50,60,70.
Sua voz projeta ruidosas frases no meu ouvido numa frequência de 60hz.
Vem cá se misturar com a textura do meu carpete, com o cheiro dos meus livros, com a cor dos meus discos e a dor dos meus olhos.
Faço pra ti um café bem forte, sem açucar. Gosto do gosto que fica na tua boca que se movimenta dizendo coisas que só eu quero ouvir...
E só se ouve o que quer.
Você na verdade nunca esteve aqui.
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
As ondas mortas
Se eu não ligo mais, por que é que olho?
E se olho, se te olho, se olho pro longe e você baixa minhas pálpebras e pede para que eu ouça o rio.
O rio está morrendo. Cansei de ouvir morte no notíciario, cansei de me despedir desse rio que não correrá mais daqui 30 ou 35 anos. E eu, aos 17, meio perdida, meio atônita.
Seja um pouco mais crente, seja um pouco mais paciênte. Perdi tanta gente nessa jornada e não me importa - Juro, não me importa. Acho que na verdade é tudo sobre mim. É tudo minha ganância e egoísmo, minha sinceridade não-mútua, meu silêncio abalador.
Meu grande e inchado ego que tenta equilibrar o peso das costas um pouco mais para os ombros, para que segure toda a responsabilidade que despenca bem na minha cabeça, cuido da casa, cuido de ti, cuido dos pequenos, cuido da roupa, cuido da louça, cuido do desiquilibrio mental, administro tarjas pretas separados pelas iniciais da fórmula de cada laborátorio, eu não sou louca, eu sou apenas agressiva. Agressiva demais, violênta demais comigo mesma.
Não sinta pena de mim, me deixe estourar a mão em um concreto qualquer, alivia a alma, é verdade.
E as vírgulas seguem todas tão progressivas, como uma hiperventilação, como uma conversa mal resolvida, ninguem entende, ninguem acredita, e tudo isso incomoda, eu sou mesmo a porra-louca, sou sim.
A apedrejada, a sangrenta, a infiel, a descrente, a utópica garota da qual ninguém nunca deveria se aproximar.
E se olho, se te olho, se olho pro longe e você baixa minhas pálpebras e pede para que eu ouça o rio.
O rio está morrendo. Cansei de ouvir morte no notíciario, cansei de me despedir desse rio que não correrá mais daqui 30 ou 35 anos. E eu, aos 17, meio perdida, meio atônita.
Seja um pouco mais crente, seja um pouco mais paciênte. Perdi tanta gente nessa jornada e não me importa - Juro, não me importa. Acho que na verdade é tudo sobre mim. É tudo minha ganância e egoísmo, minha sinceridade não-mútua, meu silêncio abalador.
Meu grande e inchado ego que tenta equilibrar o peso das costas um pouco mais para os ombros, para que segure toda a responsabilidade que despenca bem na minha cabeça, cuido da casa, cuido de ti, cuido dos pequenos, cuido da roupa, cuido da louça, cuido do desiquilibrio mental, administro tarjas pretas separados pelas iniciais da fórmula de cada laborátorio, eu não sou louca, eu sou apenas agressiva. Agressiva demais, violênta demais comigo mesma.
Não sinta pena de mim, me deixe estourar a mão em um concreto qualquer, alivia a alma, é verdade.
E as vírgulas seguem todas tão progressivas, como uma hiperventilação, como uma conversa mal resolvida, ninguem entende, ninguem acredita, e tudo isso incomoda, eu sou mesmo a porra-louca, sou sim.
A apedrejada, a sangrenta, a infiel, a descrente, a utópica garota da qual ninguém nunca deveria se aproximar.
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