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sexta-feira, 25 de abril de 2014

É sobre eu e você

Linha que pena em atravessar a agulha
Eu e você.
Agulha que pena em atravessar um tapete grosso
Você e eu.

Juntos, éramos mais fortes, éramos quase invencíveis.
E por conta disso que a vida nos derrubou tanto.
Longe de ti, eu vi tudo tão embaçado. Longe, nós dirigimos em estradas diferentes e batemos os carros no mesmo lugar
De baixo da mesma lua foi que choramos baixinho, sem querer acordar um ao outro
Sem nos dar conta de que, juntos, não precisaríamos de tantas lágrimas...
Sem ao menos perceber que o outro não dormia.

Eu e você
cowboys, bandidos, heróis.
A vida foi quem nos intercalou em meio a tanto silêncio
E seus olhos em meio ao mar aberto de sentimentos
Disse tanto que me fez chorar.

É sobre nós dois embaixo daquele pé de caju
Sobre aquela mesa de bilhar
E aquele seu jeito tão meu de andar...

Eu e você
Bichos do mato, aves noturnas, seres da parte mais profunda do oceano
E nossas marcas de expressões. E nossas formas de entreabrir os lábios.
O som da sua risada paira na minha
E a lembrança do seu sorriso bobo, me olhando jogar bola com a vizinha da frente...
Apesar da dor e da saudade, do arrependimento e da culpa
É sobre amor que falo
É sobre como nunca mais te deixo morrer outra vez.

Eu te amo demais.




quinta-feira, 10 de abril de 2014

Luz da minha vida

- “... – e eu não conseguia parar de olhar para ela, e soube tão claramente como sei agora, que estou prestes a morrer, que a amava mais que tudo que já vi ou imaginei na Terra, ou esperei descobrir em qualquer outro lugar. Ela era só um eco de aroma tênue violeta e folhas mortas da ninfeta sobre quem eu rolara no passado com tantos gritos; um eco à beira de uma ravina rubra, com um arvoredo esparso sob um céu branco, folhas castanhas entupindo o leito do riacho, e um último grilo perdido em meio à relva ressecada... mas graças a Deus não era só esse eco que eu adorava.”

(Lolita)

quinta-feira, 6 de março de 2014

"Seja forte" é o que eles dizem.
Ninguém pergunta se eu quero mesmo ser forte.
Depois de tanto, tudo que eu queria era ser fraca, bem pequenininha outra vez, pra caber nos seus braços, pra olhar aquele teu rosto de baixo, e não de cima. Pelo amor de Deus, não de cima. Eu sempre fui pequena, minha mão nunca deixou de caber na sua.
E por falar em mãos, eu quero agarrar o calor dos seus dedos, aquele que deixou na minha pele na quinta feira passada.
Nós somos tão parecidos, meu bom...
Nós, agora, somos um só.

terça-feira, 4 de março de 2014

Morrer em Hospital

Outra luz vermelha se acende no balcão da enfermaria
O enfermo precisa que levem a dor embora
Outra enfermeira vem pelo corredor raspando as coxas e arrastando os sapatos de pano, antes não tinha pressa, mas agora que gritam e choram, então acelera os passinhos lembrando então uma ave gorda e inóspita, sem poder nenhum sobre a vida alheia
O enfermo quer um travesseiro, o enfermo quer poder se deitar sem sentir um ácido corroer as costelas, os pulmões, o coração e o estômago. Quer conseguir dormir, quer poder comer -Não quer nada disso, quer que levem a dor embora e só.
Os que assistem ao nebuloso espetáculo da tortura é que querem o maldito travesseiro, mas a enfermeira quer ligar na "hotelaria"
Afinal a estadia em um hospital deveria ser confortável, mas não é, nunca foi.

Outra luz vermelha se acende no balcão da enfermaria
Quer levar a dor embora, quer chorar feito criança, quer abraçar, quer desfalecer em abraços conhecidos, quer que o desobediente braço cheio de agulhas se erga aos céus e quer que Deus exista, mas vê o diabo vestido de branco, vê a morte montada em um cavalo castanho, avista ao longe um chapéu de palha, uma, duas, três, quatro crianças nascendo, uma morrendo, e sente o toque de que já não se lembrava mais, algo muito humano, algo muito surreal.
Ah não... A vida e a morte, tudo deveria ser tão mais natural.
Vivemos nos envenenando, a gente morre com gente nos enganando.
"Logo logo tá em casa."
...
..
.
E não há, Oh mundo, não há mais nada que não me faça pensar em como os animais lidam melhor com a morte do que nós.
Os elefantes quando velhos caminham em direção à morte de forma natural e tão sábia, os gatos envenenados morrem em telhados distantes e assim segue a vida, uns caem por terra, outros nascem, nunca acaba.
Porém, como uma planta seca e retorcida, alterada, manipulada, presa em um vaso com suas raízes diminutas, morremos nós em quartos de hospitais, sem muito poder fazer, sem coragem de nos entregarmos, pois estamos entre estranhos, algemados cara a cara com o desconhecido, e então sofremos, e sofremos, sofremos até que a morte nos alcance, e até que a morte consiga beijar os lábios daqueles que tem canos ou máscaras enfiadas na cara e na boca, demora demais.

Ele dormiu numa manhã de sábado, depois de tanto cansaço.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Deixa pra amanhã.

Eu que estou aqui, prostrada em meio ao nada, com tanta coisa pra fazer.
Eu que lamento a existência nos dias ímpares e celebro a vida nos pares.
Eu que perco a fé na humanidade, me entorpeço sozinha, me calo e deixo as coisas pra depois.
Eu que logo depois me recomponho e conserto meu mundo, pinto as paredes, cuido da saúde e me preocupo. Eu que não sei bem o que é que a vida pede, onde é que o vento sopra mais forte e porque é que as vezes tenho tanta sorte. Sorte ou falta dela, pois o improvável já esteve aqui tantas vezes.
Sento-me e espero que alguém me explique as fatalidades que não entendo, que o mundo me dê as coisas que eu não tenho, que o relógio e o calendário sintam pena dessa cara de domingo passado que fica por aqui embaixo dos meus olhos e nunca desaparece. Quem sabe a lua muda, eu volto atrás, quem sabe eu perdoo, quem sabe eu finalmente pego aquele voo e vou ver aquela menina que tanto quis conhecer.
Quem sabe eu deixo de ser tão presa no passado, quem sabe eu não começo a conhecer a mim mesma, pois olha só.. tudo que eu construí está guardado no armário, e todos os livros que eu li, agora já não me servem de muito.
Muito foi o que eu senti, talvez nem tanto pelas pessoas que por aqui passaram e decidiram então partir, mas talvez por mim. Sim, eu talvez seja egoísta, e egoísta pra caralho mas eu realmente senti muito.
E agora eu já não posso escalar, muito menos cair. Uma profundeza me aguarda cheia de sonhos e outra cheia de pesadelos, mas tenho um filho pra ter, e mais um monte daqueles mesmos livros pra ler.
 Amanhã passa, amanhã eu paro de deixar pra depois.

Chuvas de junho

Trazia no centro do lábio um corte finíssimo, embebido de sangue, como quem muito já mordeu a si mesma.
Aquelas mordidas distraidas em meio a aflições, o desconforto de não poder confiar nas próprias decisões, a vergonha escorrendo dos olhos.
Lágrima
Pinga
No
Corte
Da
Boca.
 Ah, pudera ter escolhido, ao menos entre a escuridão e o breu total.
Amarras me prendem dentro do meu próprio cárcere cheio de dúvidas
E aquele ano que já passou tão convicto e transbordando de mim, se transformando bruscamente em lembranças esfoladas de delicadezas não concedidas, sutilezas despercebidas e foi debaixo daquela chuva de junho, quando me apunhalastes enquanto beijava no meio da boca e entre os meus seios, e  a gritante magreza de quem morre sem fazer muito alarde, nossos ossos se roeram todos e eu desapareci assim, sem tanta manchete.
 É que eu nunca soube anunciar minha dor de maneira elegante, entende o que eu te digo?
 Elegante é a forma que você segura o cigarro e a forma como prende os cabelos, sendo esta também uma forma de anunciar a sua morte.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

À minha criança:

Que a paciência não me falte nem mesmo nos momentos em que o sangue parece ferver em minhas veias.
Que eu saiba acolher teus medos e segurar tuas mãozinhas mesmo quando não couberem mais dentro das minhas.
 Que a vida seja sempre bonita pra nós, que onde quer que estejamos, eu nunca queira partir.
Que meu sustento te bote de pé, que a força de teus olhos sejam capazes de mover montanhas, e que eu nunca deixe de te mostrar o quanto o mundo pode ser cada vez melhor.
Que você sempre saiba que estarei aqui, por ti, e que as muralhas sejam tão menores que tua capacidade de sonhar.
E mesmo nos dias frios, mesmo nas noites assustadoras, eu vou te proteger de tudo, pois você me protegeu de mim.