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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Não sei se é a ansiedade ou a desesperança
Não sei se é o desespero ou a comodidade
Não sei se é o arrependimento ou a insensatez

Se eu tivesse usado uma roupa mais bonita, se eu tivesse dito melhor as palavras, se eu tivesse segurado sua mão com mais força, você estaria aqui?
Se eu não tivesse borrado tanto a maquiagem
Se eu não tivesse chorado em público
Se não fosse a saudade, a chuva, o barulho
Se não fosse aquela festa medíocre e o doce de morango que te comprei
Se eu tivesse, no lugar, comprado uma cerveja só pra mim
Você estaria aqui?

Se não fosse meu eu sempre bêbado
Se não fosse a tremedeira nas mãos
Se eu tivesse usado um perfume diferente
ou cortado o cabelo mais rente
Será que ainda existiria a gente?

sábado, 19 de outubro de 2013

Datas e poeira

Chega de se esconder da sujeira, eu disse a mim mesma.

A sujeira está em todos os lugares, não há quem possa deter a poeira que entra pela janela sem pedir licença e se acomoda em cima de nós, embaixo da cama, na gaveta da cômoda.
Gaveta aquela do teu quarto desarrumado, vestígios da nossa própria existência vil, desajeitada, nosso passado bagunçado e passado a limpo mas nunca, de fato, límpido.
Que joguem baldes de água fria em cima de nós: de ti não solto tão rápido.
Que a água desça pelas escadas e molhe o pé do sofá, sofá que nos acomodou naquele dezembro bêbado. Você me ajuda com as datas, eu com os detalhes. A espuma da cerveja mudou de cor, no dia vinte e cinco de dezembro, a música que tocava? não me lembro...
Mas você se lembra, e não sei como, lembra cada detalhe do que eu deixei vazar pelo ralo.

Dia dois de janeiro, me joguei em teus braços, as lágrimas escorriam deixando um rastro pelo meu rosto  conspurcado, e teu cabelo cheirava tão bem [...]

Eu não me importo mais com a sujeira, eu esqueço todo aquele passado indecoroso quando estou deitada em teu peito, e te ouço vivendo sem se exaltar, te olho dormindo feito criança, e me perco quando tento levantar da cama e você me segura sem nem ao menos acordar.

Fingi que dormia, foi só pra te ouvir falar.

Desculpe por fingir, mas tanta coisa foi simulada, dissimulada, arremedada e tanto foi guardado, que nem posso explicar. Palavras não bastam e nem surgem quando tento te decifrar.
És pra mim coisa única, tesouro raro, não suportaria perder outra vez. E é por isso que não me arrisco a te ter nas mãos, e é por isso que não digo aquelas palavras esperadas, por conta disso eu me calo.
(a lua do teu quarto é tão bonita)
Eu gostaria de ter dito.
(O som da tua risada é coisa celestial)
Eu gostaria de ouvir sempre.
(Nunca mais me deixe só)
É o que passa pela minha mente quando me nego a  te conceber meus pensamentos.


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Eu não quero mais falar de amor.

Se eu te contasse que não amei aquela que veio depois de ti, e nem a que veio depois desta,
Se eu te contasse que ainda te tenho em sonho, e que o cheiro do teu moletom preto com letras azuis nunca saiu do meu colo
Se eu te contasse que meu abraço é vago, meu peito é vasto e meu sorriso é de plástico...

Se eu te contasse também que nem por um minuto deixei de te amar...
você iria acreditar? EU mesmo iria acreditar?
Eu não quero acreditar, eu não quero nem pensar...
Amor, palavra antiga, palavra tosca, inóspita.
Dolorida até os dentes, morde forte junto com a saudade doida, doída, da ida.
Eu não quero mais falar de amor!
De que me adianta falar, se você sorri mas não gosta, se você olha e recua, mastigando essa coisa crua...
E eu, um homem sem nome, poeta desnobre das letras disformes.
Rogo que te desdobre dessa tua tristeza sem pé nem cabeça,
Quem sabe assim não descobre
Sem eu precisar dizer palavras, e poder lançar aquelas cartas todas as traças.

Eu não quero mais  precisar falar de amor.