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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

School days.

O clima desse lugar é diferente, me parece mais frio e úmido.
Nesse pico de fim-de-mundo eu posso ver as luzes dos bairros baixos alaranjarem a noite. Com um último trago, eu me despeço desse pedaço de silêncio, pois em cerca de dois ou três minutos a rua vai se encher de rapazes com suas motos, exibidos demais, magros demais, irritantes demais. A rua sem saída vira um hall  para esses malditos carros porcamente rebaixados tocando música ruim. Fere meus ouvidos, machuca meus olhos, embaralha minha mente.
Chego a pensar como me tornei assim, tão intolerante, ou se é apenas questão de que venho ficando à cada dia, mais louca.
Desenrolo meus fones de ouvido, meus dedos pressionam freneticamente o  botão onde se aumenta o som, mas já está no máximo, e meu rock antigo se mistura com o lixo moderno.
Engulo meu próprio veneno enquanto mordo forte os dentes, me dirijo até a sala de aula, todo dia me sinto como se fosse a aluna nova que fui à oito meses atras, me sento contra o armário, tentando me esconder ao máximo e fugir dos cumprimentos tão cansativos e desgastantes, Aqui, no canto perto do armário é mais confortável, se não fosse pelo garoto que fala alto demais, com esse sotaque paulistano lazarento, me sinto também uma paulistana, sozinha, amarga.
Por cima dos meus óculos percebo o olhar malicioso de um professor que nada explica, apenas enche a lousa de qualquer coisa e senta-se. O barulho do giz arranhando a lousa já machucava meus ouvidos, mas esse olhar, me machuca ainda mais. Um par de olhos que eu gostaria de furar, de apagar meu cigarro na córnea desse filho de uma puta.
É ignorância demais, gente demais, vozes demais e educação de menos.
E a minha paz de espírito se encontra numa sala bem distante, aquela acolchoada e isolada, se debatendo.

Desmundo

Quem eu sou? Quem somos nós?
Um punhado de átomos agrupados formando um universo profundo de coisa-nenhuma.
Uma brincadeira profana de  alguém que acabou dando muito mais errado que o planejado.
Quem somos nós, que tanto nos orgulhamos da suposta complexidade que nos compõe, sem ao menos pensar que só é complexo devido nossa própria incapacidade de pensar, de reagir, de levantar.
Olhe ao redor: um imenso contraste nos cerca e me ofusca os olhos.  Dos trapos à seda, do dinheiro à fome, das lágrimas desperdiçadas por uma pré adolescente mesquinha aos traços duros de um homem que passa frio e miséria, descalço, incapaz de chorar.
E o mundo? O mundo é um pobre pai que sustenta um bando de eternos pré adolescentes mesquinhos e ingratos. Quanto a mim? sei exatamente o que eu sou: Uma pequena porção de lama nessa porquice toda.
Lama não se torna água, mas água se torna lama.
Parem.
Pensem.
Existam.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Era uma tarde bonita e sinto que foi a última tarde tão bonita desde aquela tarde.
Acontece que foi tudo rápido demais, tudo delicado demais, intenso demais.
O vento empurrava os cabelos que lisos chicotavam o pescoço desnudo, enquanto o sol aquecia as pálpebras, que agora, quando as fecho, engulo seco. Engulo gosto de qualquer-coisa, agridoce, amargo.
Tentei evitar de tocar, tinha a impressão de que nossas peles gélidas entrariam em algum conflito quando contactadas, dois malditos íons da mesma ação, eu e ela. Soa como algo explosivo.
Ah, a menina vivia sofrendo por alguma coisa. Tinha os olhos de quem veio pra ficar, de qualquer forma, ficar -ou me fazer ficar- E da mesma forma eu ficaria, plantada na frente da tua casa, dormindo fragmentadamente enquanto acordo pensando em você em períodos quase cronografados.  Enquanto minhas noites mal dormidas geram essa desvontade de estar acordada, planto meus pés frios embaixo dos cobertores e implanto meu telefone na orelha, enquanto conto quantas vezes irá chamar, o barulho hipnótico deixa-se aprofundar na minha mente....
 Três da manhã.
   Não durmo.

sábado, 18 de agosto de 2012

Só queria te contar.

Só queria te dizer, que passo horas pensando no que falar quando te ver, mas nada sai.
Na verdade, só queria te dizer que não sei o que dizer, então, é isso.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Hello Stranger

"Eu conheci uma garota que eu já conhecia"
Nunca à tinha visto antes, por nenhuma rua das quais andei, nem um bar onde afoguei meus excessos. Talvez um dia, bêbada, à encontrei sangrando por dentro, e me lembrei que já à conhecia... do escuro.
Seu passado caminhou ao lado do meu passado, sua dor agarrou forte a minha mão, o frio que te gelou a espinha também arrepiou meus braços. Meus olhos pousaram na falha pigmentação das marcas dos seus. Irreversivelmente me prendi a você, mas e agora? Não sei quase nada sobre você, apenas me recordo abstratamente de repousar sob seu peito nas noites em que atravessamos o inferno, mas isso não aconteceu de fato, e eu nunca tive seu número de telefone antes.
Os ruídos da tortuosa aula onde me encontro trancada numa sala a onde se abrigam quarenta demônios, soam como uma música desconhecida, mas ainda assim familiar...
Não consigo entender nada sobre as tangentes diabólicas no quadro a minha frente, estou dominada por outra utopia. Não consigo encontrar a resposta de porquê você é tão calada, uma vez que sua voz é tão bonita.
Seus solenes olhares escondem e refletem simultaneamente tudo aquilo que procurei dentro de mim mesma.
Mas então te reconheci no escuro, e no sorriso de uma criança.
Bem vinda, estranha.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Cocaína


Você está se contorcendo em dor. Leve a sua vida, tire a sua vida com a cocaína.
Mas você é o que é, faz o que pode só quando pode, eu bem sei, e será que você mesmo não sabe que não poderia estar fazendo uma porra dessas?
Você está se sentindo tão bem agora...
Todos os seus problemas foram embora
Mas amanhã, quando acordar, todos os seus problemas estarão de volta -para ficar.
Sua vida,
Um jogo
Erga-a, erga-a com cocaína
E você só consegue curar essa ferida tiro após tiro, dose após dose. Me explique então o que é, me explique o porque. Provavelmente seu motivo não vale uma merda comparado com todas as consequências, vamos, diga! Grite para que eu possa ouvir, mas você está falando tão enrolado... O que aconteceu? 
Agora é tarde demais.... Ninguém mais te ama como deveriam. E a culpa é sua. Isso tudo não precisava acontecer, mas tudo bem, estique mais uma que é para esquecer, lamba a lâmina até que sua língua esteja tão amortecida que suas palavras percam a cor.
Agora é tarde demais, tarde demais para viver. E sua consciência está te matando
Então você está vivo, mas não está livre. Você, eu, e todos os que podem se identificar com essa merda também.
A pequena Branca-de-neve quer fugir mas não tem para onde ir. E você já está em um lugar onde não posso te alcançar, mas eu espero que você se lembre, que sua neve vai te congelar no inverno.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

120 dias

Uma xícara de café gelando, cigarros acesos, minhas unhas sujas e compridas passando tão delicadamente sobre sua macia pele... sentindo cada arrepio que isso te gera... assim pudera ser todo dia, assim pudera ser. E se o mundo acabar amanhã eu morreria com um pequeno sorriso por fora... e uma grande felicidade por dentro. E o que é felicidade pra você? Em minha humilde e sincera opnião a felicidade está descrita nas primeiras míseras palavras quase faladas aqui... porque são desses pequenos e gigantescos momentos que eu me esqueço de como a vida é fútil ridícula... assim pudera ser pra sempre. Quer fumar?

Ivan Marconato 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Trens e arvores secas.

Eu sou mesmo assim, ando rápido demais, penso mais do que falo e penso rápido demais pro meu conforto mental. Uso sempre as mesmas roupas, rasgadas, desbotadas, cansadas.
Ignoro mensagens no celular, finjo que não vejo pessoas, ouço sempre as mesmas músicas todos os dias.
Não consigo passar por doze meses sem mudar a cor do cabelo pelo menos três vezes.
Não suporto falta de simetria, gosto de rotina, estudo muito, vou pouco à escola.
Fim de semana gosto de não ter certeza se a segunda-feira vai chegar.
Já experimentei quase tudo nesse mundo, tudo que eu tive oportunidade, já desmoronei algumas vezes, já pirei de clinicas, já me senti morta justamente por viver demais.
Tenho manias esquisitas, mania de vela, mania de escuro, mania de livro, mania de gente esquista.
Amigos que eu conto nos dedos de uma só mão.
Gosto de cores, mas ainda sou a garota usando preto.
Odeio contradição e tradição
Libertina, feminista, irritante, briguenta, intelectualzinha insuportável, ciumenta, temperamental.
Essa sou eu.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Oitava carta.

Luca foi embora e não voltou mais, o trem das 7 e 30 partiu sem ele.
É um coração de metal sem alma na fria manhã da cidade.
Na praça, o banco está vazio, mas ele está dentro de mim. É doce tua respiração entre meus pensamentos, mesmo com uma enorme distância que parece dividir-nos. Mas meu coração ainda bate forte.  Quem sabe se você pensa em mim? Se com a sua família você não fala mais. Eu sei que você se esconde, igualzinho à mim, foge dos olhares e fica lá, trancado em seu quarto sem comer. Quem sabe se você aperta forte o travesseiro e chora, enquanto eu não posso te ver?
No meu diário tem uma foto de Luca, ele tem os olhos tímidos de uma criança. Me apertou forte, fingiu não ver as lágrimas que caiam e disse "um dia você entenderá" Mas não é fácil, você sabe.

É a inquietude de viver a vida sem você. Te imploro, volte, porque não posso ficar sem você.Não é possível dividir a história de nós dois






La Solitudine

Sétima carta - para se ler ao som de mariane

Eu não sou do tipo que espera o telefone tocar, meu bem, não sou mesmo.
E não é que eu esteja agora, se nunca esperei antes, porque raios deveria estar ansiosa olhando para a luz que se acende e apaga toda vez que minha unha mal colorida pressiona o botãozinho do centro desse aparelho riscado. Então desvio os olhos, acendo outro cigarro, apago como quando apagava no seu braço, marco o cinzeiro como marcava sua pele, estranha sensação de me deixar presa em ti. Foi no sábado passado que você me ligou e a tarde ficou acinzentada; a voz do outro lado era tua, mas não senti sua essência, o que anda acontecendo, meu velho amigo? Ando um pouco angustiada toda vez que meus passos falhos caminham em direção a velha praça, ando trabalhando o dia todo, ando pensando muito em você. Então você liga, fala mas não conversa, me diz que sua vida não vale mais que um copo de cerveja e eu digo claramente que não, que sua vida vale toda a minha história, mas pensando bem, a história cabe mesmo num copo americano engordurado, porém, com cerveja gelada. Já pensou se a cerveja não esquentasse nunca? Já pensou se meu cabelo ainda fosse vermelho? Já pensou que louco, que louco que seria se você não tivesse ido embora.