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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Chuvas de junho

Trazia no centro do lábio um corte finíssimo, embebido de sangue, como quem muito já mordeu a si mesma.
Aquelas mordidas distraidas em meio a aflições, o desconforto de não poder confiar nas próprias decisões, a vergonha escorrendo dos olhos.
Lágrima
Pinga
No
Corte
Da
Boca.
 Ah, pudera ter escolhido, ao menos entre a escuridão e o breu total.
Amarras me prendem dentro do meu próprio cárcere cheio de dúvidas
E aquele ano que já passou tão convicto e transbordando de mim, se transformando bruscamente em lembranças esfoladas de delicadezas não concedidas, sutilezas despercebidas e foi debaixo daquela chuva de junho, quando me apunhalastes enquanto beijava no meio da boca e entre os meus seios, e  a gritante magreza de quem morre sem fazer muito alarde, nossos ossos se roeram todos e eu desapareci assim, sem tanta manchete.
 É que eu nunca soube anunciar minha dor de maneira elegante, entende o que eu te digo?
 Elegante é a forma que você segura o cigarro e a forma como prende os cabelos, sendo esta também uma forma de anunciar a sua morte.

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