Páginas

terça-feira, 22 de março de 2011

noventa e nove

Eu que estou aqui, plena três da tarde e ainda não vi a luz do sol. Exeto pelo vão da janela, o irritante raio que quando fecho os olhos continua na minha vista. Logo eu que me encontro bem aqui, com um vestido bem lavado, o pulso cheirando à rosas, um tanto de maquiagem pra esconder as olheiras completamente roxas. O suficiente bocado de maquiagem pra esconder também minha nescessidade de me maquiar. Pareço perfeitamente bem, segurando minha xicára branca de cappucino em frente ao computador. Mas estou entupida de remédios. Tantos que já nem sei pra quê ou porquê. Aqueles para o sono, quando me vi na última noite revirando entre meus lençóis, citando o mundo entre poesias silênciosas. Aqueles pequenos comprimidos que me dizem que fará bem, mas são mais como algemas em minha mente. Aqueles tantos outros pra alergias, aqueles manipulados que tanto tentam me manipular, aqueles pra previnir tal ou outra coisa. Mas é tudo tão inutil como minha verdadeira infermidade. Aquela que me leva de fato ao inferno todas as noites. Aquela que não inventaram a cura. Tenho vontade de te agarrar bem forte pelas orelhas e cuspir todas as minhas dores bem no meio da sua cara.
Porque aqui estou eu, com um sorriso de plástico, os dentes bem escovados, o cabelo tão perfumado que mal dá pra notar a fumaça que carrego junto à alma, dos 2 maços que fumo por dia. Os maços que fumo tentando transformar em cinzas a minha dor, os maços que fumo querendo que você queime no inferno, querendo que seu coração termine sujo e negro no cinzeiro ao lado da minha cama.
Eu que já não tenho vontade de poetizar, eu que já não vejo graça na noite, que já não me importo com os meus antigos conceitos, EU, EU, EU! que porra sou EU??
essa que com quinze anos e uma puta fuça de acabada, passo por bares com cara de dezoito, com alma de noventa. Noventa e nove mil lágrimas que derramei por um filho de uma puta. E agora, aqui, com minha caneca branca na mão e noventa e nove comprimidos no corpo, eu prefiro morrer do que derramar mais uma lágrima por você.
Letícia diz que um dia ela e eu vamos terminar numa cama de motel, cheirando vinte gramas e rindo disso tudo, bem, é claro, toda essa palhaçada não podia terminar em outra coisa: Cama.
Eu me lembro de quantas vezes rolei na minha tentando te matar dentro de mim.
E todo meu ódio e toda minha dor sempre terminava na mesma cena que se repetiu tantas vezes em qualquer beco escuro que pudéssemos. E quando te evito você não entende que é quase (ainda pior) que jogar todas minhas capsulas na pia do banheiro. Você é a droga que há em minha veia, você é o lixo de tudo que vejo, a escória de todo meu sentimento. Os dois desejos flamejantes que consomem minha alma nesse momento? Te abraçar. E que você morra de todas as noventa e nove formas mais dolorosas do mundo, todas de uma única vez.

Um comentário:

  1. Muitobem escrito...
    Porem se Fosse para mim tenho certeza
    que isso iria me machucar...

    Espero que apessoa aquem você didicou isso
    realmente mereça...

    Pois se nao realmente ela iria sofre =/

    ResponderExcluir