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domingo, 29 de abril de 2012

Retrô

A primeira palavra que eu disse foi 'não'. Não foi papai, não foi mamãe. Foi um NÃO. Foi um não perfeito, cheio e convicto. Um NÃO que rendeu um documento, onde minha mãe começou relatar as seguintes palavras e façanhas da minha infância. Eu falava como uma louca, palavras pela metade, misturadas, erradas ou inventadas. O tempo passava e desenvolvi alguns hábitos curiosos, alguns anos de terapia para crianças, por que eu gostava muito mais das minhas bonecas sem cabeça. Grande coisa. Eram só bonecas, elas não pensavam. Até os 7 anos minhas bonecas continuaram sem cabeça. Aos nove, era a minha cabeça que havia saido do lugar. Eu questionava pessoas que eu não tinha permissão para questionar. E como diria Raul seixas, (Ah, Raul, fez grande parte da trilha sonora da minha infância, quem te apresentou à mim foi minha mãe e à ela agradeço.) Aos onze anos de idade eu já desconfiava da verdade absoluta. Aos doze eu acendia meus primeiros cigarros e minha mente definitivamente estava em constante conflito. Aos treze, virei uma intelectualzinha insuportável, deixava de comer para passar horas à fio lendo livros empoeirados e fumando sem parar cigarros baratos, trancada, perdida no mundo, ou perdida em mim mesma, não consigo me lembrar direito dos meus treze. Com quatorze eu era uma perfeita rebelde sem causa, ainda mais insuportavel, e como se não bastasse eu também não suportava o mundo, havia uma biblioteca me separando de qualquer vida social concreta, tinha alguns amigos que podia contar nos dedos de uma só mão, e ainda os tenho, os chamo de irmãos. Passei quase os meus 15 em clinicas, as pessoas insistiam em descobrir qual a droga do meu problema. Droga, ah.. quanta droga, em todos os sentidos. Agora estou aqui, com meu íntimo em perfeito estado, apagando memórias de sofrimentos dessegregatórios, curando as feridas expostas, correndo atraz de prejuizos. Posso até dizer, que ando cuidando de mim. Eu esqueci todas aquelas besteiras sabe, toda aquela vontade de morrer, mas ainda existe um pouco de vontade de mudar tudo, de virar o mundo de cabeça pra baixo e sacudir como quem sacode uma toalha de mesa depois do café da manhã. Ainda tenho vontade de muitas coisas que ainda não estou preparada para entender. Aos 14 fui Clarisse, aos 15 fui a garota de baurú. Agora, eu sou apenas eu. Insosso, sem sal meus dezesseis né? mas com muita história.

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