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domingo, 14 de abril de 2013

pegar o trem

Desaprendi a ver o futuro. Tirei da cabeça aquele negócio abstrato de "janelas azuis, geladeira vermelha". Não consigo mais adivinhar nada nem ninguém, não consigo mais nem pensar além, não tenho coragem pra deduzir e nem ânimo pra torcer, a fé se foi, como vai embora a fumaça desse cigarro lazarento que não consigo terminar de fumar e também não consigo jogar fora.
Antes eu sabia tantas coisas sobre o futuro. Sabia o que eu queria saber, sabia que nota ia tirar na prova, sabia o que vestir nome dos meus filhos, a cor da camisa da pessoa que se deitaria do meu lado pra dormir, Hoje, tudo que eu sei sobre o futuro é que o relógio vai incomodar de manhã, e talvez nem me acordar, apenas perturbar, apenas lembrar que a vida continua (infelizmente, continua!) e segue cor de nada, tropeça nas estrelas que não brilham, cospe nos livros que não li, nem vou ler. O relógio toca pra me lembrar que a vida vai continuar sem tempeiro nenhum, carne crua e sangrenta, vida com aspecto de carne viva, igualzinha a pele dos meus braços, na última crise, pirei de forma grossa, violentei a mim mesma até sangrar tudo que deveria, pra me certificar de que ainda vivia. E depois, briguei com dois, descontei minha raiva em um filho da puta qualquer.
Eu nunca vou achar uma geladeira vermelha pra comprar. Minha casa não vai ser branca e minhas janelas não vão ser azuis. Penso mais é que vou acabar rodeada de móveis de ferro frio, geladeira de inox, tela na janela que é pra não me atirar do sétimo andar do prédio que fica em um condomínio vil, que é pra não arrebentar minha cabeça no chão, sentir esse cérebro morrer.... Deus queira que isso não aconteça HAHAHAHAHAH Deus não quer nada, deus não existe, e pular do sétimo andar não me parece tão assustador.

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