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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Fulana de tal

Beijo no rosto.
Beijo, daqueles de encostar a bochecha marginalmente.
Beijo ráipido e defensivois,, na obrigação imposta pelos malditos grupinhos que se colocam em forma de circunferência e tem que ser dado no rosto de cada membro da roda ridícula e fútil que cheira a hormônio adolescente.
Beijo no rosto, como velhas amigas, as que nunca fomos, portanto, cumprimento como qualquer conhecida, como se você tivesse mudado seu nome drasticamente para "fulana de tal". Um tal qualquer, como se seus sobrenomes fossem incógnitas, como se eu nunca, jamais, tivesse me entretido antes com a simetria dos seus últimos nomes.
Fulana-de-tal. Menos minha. Fulana de qualquer um, fulana de ninguém, nem de si mesma.
Beijo no rosto, como quem desconhece o gosto dos lábios e distância imediata, desnorteamento dos olhos, como se nossos corpos nunca estivessem tão proximos a ponto de reconhecer a respiração alheia e os teus batimentos descompassados cardiácos. Como se nossos olhos nunca estivessem sido colocados numa só reta, formando uma tangente exata.
Pisei na sua garganta sem querer, te tirei a respiração acidentalmente, mas eu já perdi perdão, já me castiguei por obrigação própria, mas olha só: Meu tênis nem deixou marca alguma, meu beijo então, aposto que nem lembra o gosto. Você nem ao menos sentiu, beijava por beijar, como fazemos em baladas medíocres, com mulheres medíocres.
Perdoa-me, então, por não ter pisado com mais força. Perdoa-me, porque minha brasa não esteve o suficientemente aquecida para te marcar.
Te mato em meus sonhos todas as noites, te estrangulo com as minhas próprias mãos, mas apesar de tudo, demônio, te amo.

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