Páginas

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Caixa de musica.

O quarto estava escuro. Havia um cheiro de pó e mofo, dos quais as narinas delicadas dela provavelmente já haviam se acostumado.
Apenas um fio de luz escapava pela cobertura falhada do telhado, iluminava um rosto pálido e com uma expressão que eu não conseguiria descrever. Era um misto de medo e indiferença, Logo eu, que jamais pensei que estes poderiam estar unidos.
O lugar emanava uma sensação sinistra, apesar de estar empoeirado, permanecia perfeitamente arrumado. No chão, duas pequenas caixas musicais tocavam o único som alem da própria respiração dela. Uma das caixas havia parcialmente parado de funcionar, travando a minúscula sapatilha da bailarina em um dos vãos da caixinha, produzindo um barulho irritante enquanto lutava para continuar a rodar. Mas ela não parecia se importar... Eu diria que estava mais preocupada em tentar ouvir as batidas do próprio coração, ou da pulsação de sua veia, para se certificar se ainda vivia. Os olhos dela se dirigiam para lugar nenhum. Eles não possuíam luz, não possuíam direção. O castanho de sua irís já estava opaco, ninguém se surpreenderia se realmente não estivesse olhando para lugar nenhum. Ou talvez ela estivesse observando a morte... Que chegava cada vez mais perto, cada milímetro mais constante, Mais precisa. As velas iam se apagando lentamente com o passar das horas. Velas eram melhores que luz, ela dizia. Porque a luz é tão fictícia, e de mentiras ela estava farta. Um espelho coberto por uma fina camada de poeira refletia os cabelos dela espalhados para fora da cama.

Nenhum comentário:

Postar um comentário