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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Cicatrizes e livros, futuro e passado.

Colocar o livro amarelado na escrivaninha, desligar a luminária, apagar o cigarro, aquecer os pés.
Ritual de todas as noites, fechar os olhos e imaginar o futuro.
Imaginar diálogos que nunca acontecem, me imaginar convivendo com gente que foi embora, pensar e repensar sobre o que eu deveria ter dito, ou o que eu deveria ter vestido, que horas eu deveria ter partido.
Desligar-me parcialmente da realidade e me encontrar inerte, sem expressão, com as pupilas dilatas pelo escuro e a iris vidrada pelo cansaço, e inerte continuo a pensar, pensar não em como será daqui cinco anos, mas criar uma linha paralela de outros cinco anos à frente.
Foi então, numa dessas noites que, antes de apagar a luminária, entrei quase num estado de alfa. O livro soltou-se dos meus dedos e minha mente foi se desligando enquanto as linhas que dividiam as quatrocentas páginas de biologia iam se embaralhando... e sumindo.
Não pensei então, em cinco anos à frente, mas à cinco anos atras.
Me vi sentada sob essa mesma cama, agora repleta de problemas à resolver, livros à ler, futuros à pensar. Me vi também no passado.  Vontade de segurar os ombros magros da garotinha loura e chacoalhar forte, eu entenderia, entenderia se alguém me dissesse, mas ninguém nunca me disse como é que ia ser.
Se alguém me contasse, eu tenho certeza, certeza de que não teria tantas cicatrizes nos meus braços.

2 comentários:

  1. Estarei aqui daqui a 5 anos, se precisar, 5 vidas pra te chacoalhar. sei que você confia em mim. E pode ter certeza dessa confiança. Estou e estarei com você, minha linda.

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