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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

nona carta

18 de setembro
meia noite e meia
o telefone toca, estou ocupada, metade despida, metade vestida, carregando livros num só braço, aturdida.
Atendo, ou não?
Claro, claro que era você.
-Estava dormindo?
-Não, ainda não.
-É, achei mesmo que você ainda não tinha aprendido fazer isso.
.....
Silêncio. Coisas banais são ditas cortadas pelas entrelinhas da saudade que é tão evidente, decadente, monstruosa, porém, cada mês que se passa, um pouco mais omitida, é como se tivessem arrancado a estaca do meu peito e colocado no lugar apenas uma voz de uma paralela que se cruza lá em Curitiba.
(Longe, Longe, aqui do lado. Paradoxo. Nada nos separa...)
E então, eu ando estudando, meu bem. Por quê você não larga dessas bobagens e volta? Ou me deixa te visitar. Prometo que não pego tanto no seu pé, prometo que não vou lhe cobrar tanta atenção, objeção, não vou, só quero mesmo é lhe ver. Tento uma pequena poupança, ando pensando muito em entrar num avião, quem sabe, te encontrar?
E você me disse que não dava, que saía caro demais, que tá tudo distante demais, como é que se diz? "far away, baby"  Mas é cada coisa que me acontece! Olhe pra mim! estou me matando de estudar que é par...
-então você me corta a fala como quem corta uma garganta com uma navalha... Logo você, que nunca corta a fala de ninguém, tá sempre ali, esperando a pessoa terminar de falar, sem olhar nos olhos, sem deixar ninguém se certificar de que você está mesmo absorvendo tudo que é lhe dito, e eu, frenética, agora olhando no espelho, sentada no chão, tossindo, vermelha, e você diz que eu tô sempre me matando de alguma forma.
É verdade. Verdade mesmo. Mas de todas as formas você esteve aqui do meu lado, e agora, olhe só, que coisa mais impressionante-inacreditável-utópica. Estou mesmo careta e cafona, cercada por paredes pintadas e com as unhas intactas, fumando filtro branco, desdobrando as bainhas das mini-saias, cicatrizando as feridas. Que coisa mais engraçada, meu irmão.
Sinto sua falta até demais, você sabe me ler como quem lê  e entende um livro de Paulo Coelho, você consegue me interpretar mesmo quando minhas páginas estão amareladas e rasgadas, você sabe contar quantas lágrimas caem sem ao menos me ver.
Então você me manda embora, me empurra com as palavras, diz que vai atirar o telefone pela janela num dia desses,e eu fico aqui pensando a gente se despede, mas nunca desliga.





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