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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

As ondas mortas

Se eu não ligo mais, por que é que olho?
E se olho, se te olho, se olho pro longe e você baixa minhas pálpebras e pede para que eu ouça o rio.
O rio está morrendo. Cansei de ouvir morte no notíciario, cansei de me despedir desse rio que não correrá mais daqui 30 ou 35 anos. E eu, aos 17, meio perdida, meio atônita.
Seja um pouco mais crente, seja um pouco mais paciênte. Perdi tanta gente nessa jornada e não me importa - Juro, não me importa. Acho que na verdade é tudo sobre mim. É tudo minha ganância e egoísmo, minha sinceridade não-mútua, meu silêncio abalador.
 Meu grande e inchado ego que tenta equilibrar o peso das costas um pouco mais para os ombros, para que segure toda a responsabilidade que despenca bem na minha cabeça, cuido da casa, cuido de ti, cuido dos pequenos, cuido da roupa, cuido da louça, cuido do desiquilibrio mental, administro tarjas pretas separados pelas iniciais da fórmula de cada laborátorio, eu não sou louca, eu sou apenas agressiva. Agressiva demais, violênta demais comigo mesma.
Não sinta pena de mim, me deixe estourar a mão em um concreto qualquer, alivia a alma, é verdade.
E as vírgulas seguem todas tão progressivas, como uma hiperventilação, como uma conversa mal resolvida, ninguem entende, ninguem acredita, e tudo isso incomoda, eu sou mesmo a porra-louca, sou sim.
A apedrejada, a sangrenta, a infiel, a descrente, a utópica garota da qual ninguém nunca deveria se aproximar.

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