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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Viver mata.

Quem fuma morre, diz naquela placa.
Se eu trabalhar demais eu posso ter uma crise de estresse e foder alguns neurônios, disse a psicóloga.
Mas quem fuma maconha mata o cérebro, disse meu pai.
Quem come demais também morre, disse o cirurgião-cardiaco.
Então eu vou ver televisão, mas posso morrer de alienação, enquanto coço os culhões, a barba por fazer e uma pizza de calabresa na mesa de centro. Aí eu fico gordo, aí não arrumo namorada, aí não caso, não tenho filhos e fico na solidão. Solidão traz depressão e quem tem depressão também morre.
Morre porquê se mata ou morre porquê não come.
E se eu ficar sem comer, fico magro, e todo mundo vai pensar que tenho aids, e nenhuma garota vai querer ter sexo comigo.
E se eu fizer sexo, posso mesmo ter aids, então eu morro de aids, ou de colesterol, ou de câncer de pulmão, ou de estresse, ou de vazio, ou de solidão, ou derreto o cérebro, ou piro de clinicas.
E se me colocarem numa clínica, eu vou olhar as canelas da enfermeira mau-humorada e torcer pra não me medicarem errado, posso ter um derrame, e porra, posso mesmo ficar com metade da cara paralisada, babando, chorando à seco, lendo literatura brasileira rica e esquecida, esquecido.
É perigoso morrer esquecido.

3 comentários:

  1. Texto tão curto e tão marcante. Já li e reli ele um bocado de vez.

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  2. Caralho, Ma. Você escreve muito bem! Adorei o texto.

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  3. obrigada minhas lindas :))) vocês não sabem o quão satisfatório é saber que vocês leêm essa bostinha

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