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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Em resposta

Me lembro de ter segurado forte a mão da pessoa que estava do meu lado quando senti sua presença. Eu disse "É ela" e então tremi por dentro.
Por onde começar? Saberiamos exatamente por onde começar, antigamente.
 Dessa vez, não existiria gritos histéricos no meio da multidão, como faziamos quando nos encontrávamos. Dessa vez, não teríamos segredos pra dividir, e eu não ia pra sua casa no final da noite. Dessa vez, quem estava na minha frente era Elizete, e não a Liz. Senti meu sangue fugir do rosto. Você chegou de moto. Um flash me fez lembrar de quando eu eramos crianças, e eu te imaginava tirando o capacete e seus cabelos fortes e compridos, sempre muito mais bem cuidado que os meus, chicoteando-lhe as costas, e um sorriso surgiria na alvorada do teu rosto. Não foi assim. Meu olhar ficou sem direção, a festa foi horrível, me senti sozinha o tempo todo. Afinal.. Eu tinha uma namorada que nem percebia minha presença no lugar, um monte de gente desconhecida (isso me deixava nervosa) e tinha outra coisa ainda maior e mais protuberante. A sua presença.
 dance, menina morta, dance. ...Se lembra? foi a última carta que recebi de você. E não tinha remetente. Não tinha endereço, nem data, só tinha dor. E foi assim mesmo. Durante anos, dancei como louca, vivi como morta.
E você? Soube que está noiva, e então ri.
 Ri de tudo que já choramos por amores ignóbeis. Cheguei em casa atônita, e e foi impossivél não te imaginar vestida de noiva. Lembra-se, do buquê azul? Iríamos casar juntas. Com rosas azuis. Mas.. Eu não vou casar. Você estará maravilhosa, e te imagino de branco, perfeitamente amparada por todos os olhares graciosos de um lugar cheio de gente que te ama. Linda, num vestido combinado com espartilho de fitas de cetim. Linda. Como sempre.
 E te lembrei nas guerras de farinha de trigo, nos filmes de terror, nas duas taças de vinho, que era o nosso limite. Te lembrei na beira da piscina, como se o sol banhasse seu corpo e ao mesmo tempo iluminasse seu espírito, lembrei de nós, Liz. Da rua deserta na frente da sua casa, das tintas e lantejoulas, dos chinelinhos de dedo e da comida da sua mãe. Lembro da voz da sua mãe, e do olhar adocicado, quando lhe perguntei como era ser professora, no dia que ela havia voltado de uma reunião. E a sua voz é inesquecível, você é inesquecivél.

 Eu li um livro que dizia que todos os erros do passado, quando cometidos por amigos, irmãos, podem ser perdoados. Eu espero que sim. Espero que me perdoe por ter vendido a alma ao diabo. Por ter ficado louca. Por ter destruído tudo que tínhamos com as minhas próprias mãos. Eu espero, do fundo da alma, que eu encontre uma rosa azul pra levar no seu casamento.
 Mesmo que eu não seja convidada.

 Gostaria de compartilhar, algumas frases do livro que tanto me lembrou a nós:

 “éramos homaria e eu contra o mundo. e ouça o que lhe digo: no final o mundo sempre sai ganhando. as coisas são assim, puras e simples...”

 “não me lembrava que mês era, nem mesmo que ano. só sei que aquela lembrança vivia dentro de mim como um pedaço gostoso de passado, perfeitamente encapsulado; uma pincelada de cores naquela tela cinza e árida que nossas vidas tinha se tornado.” 

 "...descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo.Porque,de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar."

 "Por você, eu faria isso mil vezes"

O caçador de pipas - Khaled Hosseini

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