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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Gabriela


"Hoje os ventos do destino começaram a soprar... Nossos tempos de menino, foi ficando para trás."
E o que vem depois de nós?
Uma história mal escrita por bocas de pessoas que não contaram os grãos de areia que caíram da nossa ampulheta, mas tudo bem, acho que também contariam as gerações futuras o grande impacto pessoal que causamos em grande escala. 
Somos mais do que duas pessoas mas somos menos que o mundo inteiro, porque o mundo é um lugar sujo e feio, mas as vezes, nos fins de semana, tiramos um tempo pra brincar de deus e contruir o nosso mundo, sempre foi assim, né?
Antes, nosso mundo eram todas as tardes, tomando cappucino na calçada depois da escola, e oras, que tipo de criança toma cappucino na calçada nos fins de tarde discutindo política ou mulheres?
Sério, acho que somos únicas.
Únicas por nós mesmas. Te lembro nas intimações mandadas para que as outras amiguinhas ficassem longe de mim. (e talvez toda essa minha isolação da sociedade seja culpa sua, vaca.) E lembro as intimidades trocadas, e as coisas mais constrangedoras detalhadas, e vermelha ficavamos rindo uma da desgraça da outra, enquanto o céu da praça do são dimas ia alaranjando-se, avermelhando-se conosco, e as vezes chovia, chuva forte, chuva de lavar as dores, e que bom que ainda não tinhamos dores! Corriamos pela ponte e na frente dos carros, ouvia-se buzinas e insultos, e o salão de beleza cor-de-rosa que ficava no meio do caminho pra casa era sempre o alvo das nossas alcunhas, pulavamos nas poças d'agua sem se importar em estragar o tênis ou a calça cara que você pagou dando a bunda pra uma empresa que faz papel que eu enrolo fumo. 
E quantas pessoas já passaram por nós, e decifravamos apenas pelo jeito de andar ou de mover as mãos. Deciframos tanta gente, tantas provas de português, e hoje, fica um pouquinho difícil de nos decifrar, e quando a chuva cai, nunca mais saí pra me molhar. Mas ainda decifro o enigma maior do mundo, de onde viemos e pra onde vamos? e a minha resposta é: Não importa. Eu tenho você.
E vou ter pra sempre. A cada porre que você tenha segurado meu cabelo ou me procurado em pleno coma alcoolico no meio de um matagal, ou toda vez que eu tiver que te arrastar pelas pernas de um ralo sujo e cheio de vómito, nossa, cheguei num ponto tão poético da história né?
Ah! Os bares. As mesas de bilhar. As máquinas de música. A cerveja merecida, a saudade que parecia dividir-nos, que bom que não nos afastamos, como a lei da vida sempre prometeu, que bom que as vezes ainda deito contigo no gramado de qualquer praça olhando pra lua e falando sobre coisas melancólicas ou talvez não.
Nossa, como o tempo passa rápido. E o futuro me assusta um pouco, mas depois de tudo, eu sei que ninguém de nós duas vai embora. Esse é o combinado, esse é o trato. E "eu não vim até aqui pra desistir agora"
Desistimos de ser rockstar e desistimos de entender as mulheres, desistimos de usar salto alto e desistimos de vícios mortais. Mas não vamos desistir de nós, por mais que a cada ano que se passe, ficamos um pouco mais velha e chatas. 
Só que um dia prometemos que iamos acabar num apartamento no sétimo andar, com um pequeno jardim plantando morango e cactos, com alguns gatos fedorentos, fumando mais do que nosso pulmão poderia aguentar, pedindo pizza todas as sextas-feiras enquanto assistiriamos documentários sobre os psicopatas e sobre as guerras que vemos hoje, mas amanhã será lenda, e com a mão engordurada eu ainda vou ter humor pra esfrega-la na sua cara, daquele mesmo jeito que você sempre odiou, e prometemos isso, não prometemos? Envelhecer balançando numa cadeira de madeira bebendo whisky e falando de mulher.
E sabe de uma coisa? Depois de toda essa coisa morna e de todos esses anos te devendo uma porra te texto, eu confesso: você não é muito mulher, mas é, com certeza, a mulher da minha vida.

E isso não é uma declaração de amor, tire sua mão da minha bunda, escrota.

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