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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"Se livrar de tudo que te faz mal"

A semana sempre corre bem, sempre tudo dentro da rotina. Quase sempre. As vezes, durante as quarta-feiras, eu interrompia minha vida íntegra pra andar alguns kilometros e  encontra-la assim, daquele seu jeitinho, sua voz serena, sua metralhadora de palavras. Era a minha namorada, e ninguém sabia, só mesmo nós. Te encontrava, deitavamos e a apertava bem forte e dizia que ia tudo melhorar, que ia tudo passar. As vezes te segurava os cabelos enquanto você metia a cara dentro de um balde e vomitava o puro alcool ingerido na tentativa de curar suas feridas internas. Eu não apoiava, nem criticava, apenas segurava seu cabelo e depois preparava água com áçucar, tirava seus sapatinhos de boneca, te preparava um banho quente, levava bem seu rosto e te borrifava algum perfume vagabundo. 
Eu achava mesmo fascinante, era contigo que eu acreditava que a vida era interessante. E eu mantia a calma e dizia pra você se focar, pra voce se esforçar, pra se livrar de tudo que te fazia mal. Tentei te levar pra jantar, dançar, ouvir música, passear, ir ao cinema, mas nada, nadinha disso adiantou, nosso romance era de novela, aqueles proíbidos, aqueles negativos, aqueles sofridos. Tudo isso passava quando uma metralhadora de letras atacava meu celular ou minha caixa de e-mails, todos confusos, todos engraçados, todos bonitos. Bonito. Ela era tão Bonita.
Mas eu sempre pensava que não ia adiantar, que ela nunca ia me ouvir, que hora ou outra sua cabeça oca ia estar dentro de um balde laranja de novo, e eu não negava nada, só queria deixar fluir, pensei que curaríamos uma a outra, mas...
Um dia ela se cuidou, parou de bobagem, de drama. Parou com tudo aquilo, e se livrou de tudo que lhe fazia mal. Fiquei tão feliz com a última mensagem, tão feliz! 
Só depois me toquei que não podia responde-la. 
Você estava melhor. Havia se livrado da vodka, do balde e de mim.

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