Páginas

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Moça

Olha só como ela se esconde na própria sombra.
Olha só como a pele é frágil, desacostumada com o contato do meio-fio sujo onde estamos sentadas, largadas, bêbadas.
"Como é feio quando uma moça bebe demais" sempre ouvi por aí.
Mas você continuava linda.
Sempre te conhei e nunca tinha te visto em lugar nenhum, mas cá estamos, moça, me passa o rum.
Que coisa mais maluca essa mania de trocar as sílabas das palavras quando estamos nervosas. E que loucura estar nervosa. Somos só eu e você.
Nós podemos conversar sobre o que você quiser, desde nossos desastrosos tarjas pretas dos quais tomamos a mesma receita, podemos falar dos efeitos colaterais, ou eu posso baixar os olhos e sorrir dura, que é exatamente o que acontece quando estou medicada, as pupilas dilatam e a pressão sanguínea vira uma  bagunça. Então baixo os olhos e você pode continuar falando e falando, com sua voz meiga, um montão de coisas sem sentido. Eu aceito, rio, te abraço e te dou um beijo.
Vai ficar tudo bem, não vai?
Seguro sua mão como quem segura qualquer coisa valiosa demais, e você diz que minha pele é macia, e as ruas estão vazias, já é bem tarde, noite de quarta-feira, duas garotas perdidas nas proximidades de suas casas que sempre ficaram tão perto uma da outra mas mesmo assim, nunca nos vimos.
Duas garotas sob os incomodos faróis de carros que passam clareando suas coxas brancas, brancas.
Tenho o ímpeto de te roubar pra mim, moça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário