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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ninguém há de amar

Olhei-me no espelho e me senti agredida pelos (poucos) anos.
Prendi os cabelos, e olhei profundamente dentro dos meus próprios olhos. Não, não eram os anos. Os anos são coisas boas, a vida deve ser uma coisa boa. Uma coisa boa que desconheço.
Me senti então agredida por mim mesma, e toda a violência foi refletida nos braços, nas marcas, no sal dos olhos.
Quem há de amar aquela que se destruiu sem precisar de ajuda de ninguém?
Quem há de amar aquela que se restringe a diálogos monossílabos
E picota os cabelos todas as vezes que se sente triste
Quem há de amar aquela que se sente triste o dia inteiro?
Ah! as minhas faculdades. Minhas habilidades que se resumem em auto-destruição
Punição intensiva, pecadora assídua, vazia.

A chuva se derramava como um carinho ou lembrete de que a vida existe de verdade.
O estômago doía como um alarme de que eu deveria continuar viva.
A escuridão era uma outra porta, outra opção.
Vocês alguma vez já se sentiram como se não pertencessem ao lugar onde nasceram?

Ah, não, ninguém há de amar, nem a mim, nem ninguém
Todos hão de se vangloriar por conquistas que nem são de fato, mérito próprio.
E hão de destruir a terra que vos alimentam
E o mundo que suporta os nossos sapatos cederá
No lugar deste, uma enorme depressão se abrirá, quente como o diabo
Morreremos todos queimados pelos nossos próprios desejos sórdidos




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