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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Romantismo de bituca queimada

Outra vez ergo a voz em um timbre falho e outra vez ao rodopiar a bailarina cai e esfola os joelhos.
Tinge de vermelho a meia-calça cor de rosa, sorri sem estar feliz, força os músculos da coxa e se levanta sem olhar pros lados. A dor assola a sola dos pés e continua sorrindo, as vezes, só rindo.
Rir de que? Rir por que? Rir pra quem, hora essa, um relógio parado no tempo sorri marcando dez pra uma da manhã.

Outra vez ergo o punho e ao cair o manto negro da madrugada você treme.
Treme, teme as bombas de gás de efeito moral devastando a visão de dois palmos a minha frente.
Moral- mortal- mordaz. Ácido corroendo retinas talvez nem tão inocentes assim.

Se eu pudesse, nunca teria reparado nos olhos da criatura de alma áspera e pele macia.
Amor maciço, amor de bituca queimada, que se fuma até o final, por desespero ou desesperança. 

Outro dia, outra saudade, outra desesperança, outra dor, outro cigarro é aceso sem a necessidade real de aliviar um vício. Outra vez ele chega ao fim, outra vez a fétida bituca cai ao chão.
Outra vez perco a direção dos olhos e perco a noção do tempo, e de novo, sinto vontade de destruir algo grandioso.

Ah, o romantismo de bituca queimada nunca me levou a lugar nenhum, nem nunca aliviou dor de alma ou de joelho, nunca... Apenas amarelou os dedos, os anos, os dentes.

Dentes que devoram amareladas paginas de pretérito imperfeito, por ter sido perfeito demais.
O tempo cura o joelho esfolado, dope tranquiliza o olho dilatado, mas nada, ninguém, e nem todos os cigarros apagados no cinzeiro do lado de fora da janela
Conseguem amenizar a falta que sinto dela.

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